terça-feira, 29 de junho de 2010

AURORA

Aurora,
senhora de minha hora,
que,
ora imagem,
cora a memória.
Explora o tempo
necessitado da ausência
que mora na demora
do fato imediato.

Agora,
corpo e sombra,
gêmeos
mundo afora.

marco 21.09.94

FOME

A fome come
com boca ruim.
Ruína em corpo,
dentes abstratos,
colo oco.

O olho,
vetor de desejos,
chove em vão.

Mão estendida,
perpétuo movimento vazio.
Toma o troco
e cala a inconsciência...

marco, 31.03.94 / 28.06.96

NATUREZA MORTA

Imagens transmutadas,
miragens,
pseudo-verdades
estáticas e herméticas
nos olhos de quem.
Imagens incorporadas,
corpo contínuo
e recluso,
desmanchadas em símbolos perfeitos:
desimagens magnéticas.

marco, 30.05.94 / 28.06.96

CORRE

Bitola estreita.
Discorre o anil
sobre a alvura segmentada.
Vidas paralelas,
monólogo perpétuo
de cores infinitas.
Corre o tempo
e as idéias passam.
Aos que restam,
o resto.

marco 30.03.94 / 28.06.96

segunda-feira, 21 de junho de 2010

SOMBRA

Sonho à sombra de uma voz.
Volta a vida de uma vez.
Calada e opaca a tez,
deságua lágrimas na foz,
logo após...

E o que soa
sonha só.

Marco, 19 de janeiro de 93

ENTRANHAS

I
Rasgo um amargo gosto
enfiado no meio dos olhos.
Desafio teus desejos,
desafio tua sombra,
sigo pelo túnel do teu medo.

II
Teu coração virou sucata,
teu coração não é reciclável.
Nenhum corpo jamais
perdeu-se tanto,
vibrou tanto,
espatifou-se contra o vento,
como o teu.

III
Ah... o teu suspiro...
quase me esqueço
teu cigarro aceso.
Ainda ouço os sons
de tua voz...
Que queres dizer?
As palavras,
em tua boca,
têm mau hábito.
Praguejas sem vontade,
pelo simples ato.

IV
Poeta, talvez.
Louco, não!
Que em nossos dias,
loucura não é exceção.


V
Cavo um buraco
no meio do mundo.
O escuro revela seu sorriso.
Boca torta,
boca sem graça.
Um deus sem tamanho
numa prece disfarçada.
Apago uma vela
para todos os santos,
sob a fé cega,
burra,
enorme,
mas ainda fé.
No fundo,
também um buraco
sem fundo.

VI
Teu desejo
deixou de desejar.
Na cabeça um lenço,
feito bandeira alheia,
feito todas as outras
cabeças feitas,
escondendo um crânio oco.
Olhares reflexos
de espelhos côncavos,
vídeo-tape.
E os membros todos,
o corpo todo,
reprimido,
contraído,
com movimentos peristálticos
sem cor, sem brilho,
brutos e mecânicos.


VII
A história é outra.
Os motivos, os mesmos.
O tempo acompanha
o ritmo do coração,
das entranhas do coração.
Os ruídos disfarçam as vontades amordaçadas.
O semblante entristecido
sobrevive,
apenas sobrevive,
como tantos.

VIII
Lacuna indecifrável:
o esboço de um ser
esperando pela alma.
Distante vai seu sonho,
levado pela realidade urgente:
sobreviver.

Marco

quarta-feira, 16 de junho de 2010

ACHO QUE É AMOR

Sereia da terra,
tão linda,
cristalina como as espumas
das ondas do mar.
Traz em meus sonhos
o sorriso de Gioconda,
o olhar de Medusa,
o fogo de Aletto...
Sereia distante,
tão dentro de minha mente,
quanto tempo ainda por vir,
tantas flores por colher,
tantos olhares para se ver...
E um suspiro,
entre tantos...
E vejo em teus olhos,
como um prisma,
as sete cores do arco-íris,
a prata-lua em pleno dia,
a Aurora-boreal em pleno Equador:
Acho que isso é amor!

marco 05.09.86

BOI

Oi boi!
Mói mocho
bicho eco.
Come corda,
cor de cera,
mero mato
seco.

Beco fundo:
mundo boi,
oi!

Marco, 18.03.94

UM OLHAR

OLHAR MADURO VIVO
OLHAR SIMPLES OLHAR
OLHAR MARCADO OLHADO
OLHAR FURTIVO
FURTANDO OLHARES

marco, 09.03.94