I
Rasgo um amargo gosto
enfiado no meio dos olhos.
Desafio teus desejos,
desafio tua sombra,
sigo pelo túnel do teu medo.
II
Teu coração virou sucata,
teu coração não é reciclável.
Nenhum corpo jamais
perdeu-se tanto,
vibrou tanto,
espatifou-se contra o vento,
como o teu.
III
Ah... o teu suspiro...
quase me esqueço
teu cigarro aceso.
Ainda ouço os sons
de tua voz...
Que queres dizer?
As palavras,
em tua boca,
têm mau hábito.
Praguejas sem vontade,
pelo simples ato.
IV
Poeta, talvez.
Louco, não!
Que em nossos dias,
loucura não é exceção.
V
Cavo um buraco
no meio do mundo.
O escuro revela seu sorriso.
Boca torta,
boca sem graça.
Um deus sem tamanho
numa prece disfarçada.
Apago uma vela
para todos os santos,
sob a fé cega,
burra,
enorme,
mas ainda fé.
No fundo,
também um buraco
sem fundo.
VI
Teu desejo
deixou de desejar.
Na cabeça um lenço,
feito bandeira alheia,
feito todas as outras
cabeças feitas,
escondendo um crânio oco.
Olhares reflexos
de espelhos côncavos,
vídeo-tape.
E os membros todos,
o corpo todo,
reprimido,
contraído,
com movimentos peristálticos
sem cor, sem brilho,
brutos e mecânicos.
VII
A história é outra.
Os motivos, os mesmos.
O tempo acompanha
o ritmo do coração,
das entranhas do coração.
Os ruídos disfarçam as vontades amordaçadas.
O semblante entristecido
sobrevive,
apenas sobrevive,
como tantos.
VIII
Lacuna indecifrável:
o esboço de um ser
esperando pela alma.
Distante vai seu sonho,
levado pela realidade urgente:
sobreviver.
Marco
segunda-feira, 21 de junho de 2010
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