quarta-feira, 6 de maio de 2015

HONOMEN

I

Em nome do nome
o homem sucumbe.
Denominados os valores,
os conceitos concluem
o nome do homem.

II

Sonhos são inomináveis,
homens sonham nomes,
interagem enquanto sobrenomes,
imagens sem reflexo,
despercebidos em pronomes.

III

O espelho oculta
homens enormes.
Em nome dos homens,
o nome Homem reflete
homens sem nome.

marco 11.04.95
A VOZ QUE ME CABE
SABE QUE FALO
DO QUE NÃO SABE.

marco 04.12.95

AURORA

Aurora,
senhora de minha hora,
que,
ora imagem,
cora a memória.
Explora o tempo
necessitado da ausência
que mora na demora
do fato imediato.

Agora,
corpo e sombra,
gêmeos
mundo afora.

marco 21.09.94
BEIJO

Cê sabe
É só um beijo
De boca
De língua
De carne
De Carmem Miranda.
Cê sabe
De fato
Não falo muito
Só sinto
o cinto apertado
Cê sabe
A boca
Não cabe
Na boca
Acabe
Com essa moda
e morda!

Marco, 17 de fevereiro de 92
É TARDE DO OUTRO LADO

É tarde
do outro lado.
Minha língua não te entende.
Mas sei do teu sentimento.
Aquele sorriso
brilha como o meu.
Minha dor
é a tua dor.
Nossa distância, pequena.
Mas não nos conhecemos.

Alguém pensa em mim.
Eu penso em você.
Pensamos todos no infinito,
tornamo-nos cúmplices.
Ainda que desconhecidos.

Marco
INSÔNIA

Ele passeava sem rumo, simples, sentindo o chão sob seus pés descalços, toda a textura, o relevo veloz... Vez por outra, uma brisa desarrumava-lhe os cabelos negros. Naquele dia ele acordou e decidiu-se por uma vida adormecida. Queria verdadeiramente dormir até morrer, não como forma de suicídio, simplesmente a opção mesma de viver a sonhar. Apenas ser e estar acordado já não tinha mais sentido, qualquer que fosse. Para ele, tudo o que precisava saber, sentir, viver já se consumara. Agora era hora de dormir, para por os sonhos em prática. Ou talvez fosse o contrário, quem sabe?
Enquanto suas pernas pensavam, sua cabeça se esvaziava, e foi seguindo assim, até que se viu adormecido, imóvel, ouvindo a própria respiração, o ritmo cardíaco, o sangue circulando por veias e artérias, os pelos do corpo arrepiando-se, ao mesmo tempo em percebia-se em pleno movimento aleatório, livre dos caminhos caminhados.
Pessoas começaram a cruzar-lhe o caminho, ou talvez o caminho começasse a cruzar as pessoas, tudo ao mesmo tempo, como numa irrealidade concreta, uma dúvida incerta. A possibilidade de ser escolhido como uma escolha e ser esquecido tacitamente. Sem direção ou sentido, apenas a sensação do que se lhe apresentava ou desviava, nada além de nada.
Diálogos possíveis, conheceres e reconheceres, imagens e sons inéditos, tudo cabe, tudo se faz imune, impune, e o lume também enegrece, parte da parte que não se sabe. Durante instantes imensuráveis pode vivenciar momentos aparentemente previstos. Mas o que realmente importa é a percepção de que tudo se encaixa a uma nova forma de olhar aquilo que é e não é, sem juízos, sem valores.
Pensou então sobre o que já disse o poeta, “viver é melhor que sonhar”; mas sonhar não é também parte do viver? A própria questão em si já se faz resposta, ao mesmo tempo em que desfaz e renova a dúvida. A consciência de si já traz em seu bojo a própria inconsistência.
E nada mais há que se dizer. O cabo do corpo é o porto.
Enquanto canto
Em qualquer tempo,
Um corpo descansa
Seu último sono.
Entretanto,
Sempre que penso
No fim do momento,
Desabono...

Pelas ruas
as mentes vadias
esquecem verdades
consumadas.
Nestes dias,
há sombras antigas
de tanta saudade
consumidas...

Marco, 28/01/2008