sábado, 8 de maio de 2010

ENTÃO

ENTÃO

Então,
se estas são as flores
dos amores perdidos,
escondidos no semblante
de amantes amargos;
se este é o sorriso indecente
do indeciso sorridente,
que vende um abraço
e o espaço que lhe cabe,
e não sabe que eu sei;
se neste minuto
um incauto menino
esconde sua mãe que chora
e implora a deus,
adeus;
se num momento
o invento deserto
acalenta seu tento,
desfeito num aberto
aborto absorto,
estou morto;
Então,
o que resta...
apenas o vinco
na calça desbotada,
e a noite transparente
aparentemente em minha mente
assim, assim... então...

marco 11.11 88

A NOITE ANUNCIADA

A NOITE ANUNCIADA

Os olhos percorrem
uma órbita sem sentido.
Estrelas prematuras,
distantes,
disputam com o sol
o interesse lunático,
a inspiração do poeta,
as ondas do mar.

Lâmpadas neon
reforçando os contornos negro-azulados.
Postes iluminados,
orientando percursos secretos.
O vermelho dos semáforos
é mais vivo,
trespassando os pára-brisas.

Na cidade
tudo já é brilho.
Sua alma transparece
nos edifícios apagados,
nos ônibus lotados.
A noite anunciada
predomina nos corações
dos anjos e dos demônios,
e também daqueles ímpios.

A noite anunciada
penetra,
corrompe,
descarta seus habitantes
da ilusão de um sono tranqüilo.
Consome-se na certeza
do próprio descanso,
antes que o sol lhe convença.

marco, 06.07.96

MAGALI

MAGALI

Atento,
adentro disforme
o sonho de Magali.
Quem?
Que importa?
A quem importa?
Ali, aqui,
o álibi de Magali.
Apenas um nome
sobre um sub-ser.
Serpente de repente,
camaleoa à toa,
Na cama, a leoa.
Meu álibi em Magali,
seu hálito em minha boca.
Meus poros impuros
transpiraram, suspiraram,
inspiraram, conspiraram,
piraram, viram
ali, bem ali,
sem álibi, Magali,
morta.
Palavra corrupta:
morte.
Magali morta,
bem ali.

marco 15.10.93

INVENÇÃO

Pode ser então
que o sol seja satélite.
A noite viraria dia,
o dia, mais dia ainda.

Meu nome sem registro,
cada um em seu assunto,
fugindo de casa,
esquecido da história.
Cada um em seu assento,
lombo de mula,
látex negro,
escorrendo feito verme
em direção ao vulcão.
A cada seis horas
uma estação do ano.

Pode ser então,
espaço e tempo,
apenas invenção.

Marco, outono’96